As origens do método “VER, JULGAR e AGIR”, que foi consagrado na caminhada da Igreja latino-americana

O cardeal que ensinou a Igreja a “ver, julgar e agir”

VER JULGAR AGIR Mediação sócio-analítica hermenêutica prática

Em um comunicado, a Comunidade Internacional Cardijn lembra que foi o falecido cardeal Joseph Cardijn, fundador do movimento da Juventude Operária Cristã – JOC, que sugeriu ao Papa João XXIII que publicasse uma encíclica para marcar o 70º aniversário da histórica encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII. Em resposta, o Papa João XXIII pediu que Cardijn providenciasse um esboço das questões a serem abordadas na encíclica. Ele fez isso em um memorando de 20 páginas apresentado ao pontífice no ano de 1960.

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Joseph Leo Cardijn

Quando a Mater et Magistra apareceu pouco mais de um ano depois, a encíclica observava que “para levar a realizações concretas os princípios e as diretrizes sociais, passa-se ordinariamente por três fases” (n. 235):

  • 1ª o “estudo da situação” concreta;
  • 2ª a “apreciação da mesma à luz desses princípios e diretrizes”;
  • 3ª o “exame e determinação do que se pode e deve fazer para aplicar os princípios e as diretrizes à prática”.

Esses “são os três momentos que habitualmente se exprimem com as palavras seguintes: `VER, JULGAR E AGIR`”, continuava a encíclica. Portanto, o Papa João XXII reconheceu formalmente o método ver-julgar-agir em sua encíclica Mater et Magistra publicada no dia 15 de maio de 1961.

Acreditamos que até mesmo Cardijn ficou surpreso ao descobrir a extensão desse reconhecimento na encíclica“, comentou o organizador da Comunidade Internacional Cardijn, M. J. Ruben.

Quatro anos depois, em um discurso ao Concílio Vaticano II, Cardijn, então cardeal, insistiu na importância desse legado:

Tenho demonstrado confiança na liberdade [dos jovens] de forma a melhor educar essa liberdade… Ajudei-os a ver, julgar e agir por si mesmos, mediante a realização de ações sociais e culturais próprias, obedecendo livremente as autoridades, a fim de se tornarem testemunhas adultas de Cristo e do Evangelho, conscientes de suas responsabilidades por seus irmãos e irmãs em todo o mundo“, disse ele, no dia 20 de setembro de 1965, em uma frase que lembra a famosa definição de democracia adotada pelo movimento Sillon(sulco) de Marc Sangnier como o sistema da “organização social que tende a maximizar a consciência e a responsabilidade cívicas de cada pessoa”.

A fórmula ver-julgar-agir de Cardijn resumiu claramente o “método de educação democrática” nos “círculos de estudo” que o Sillon havia sido pioneiro na França na virada do século XX:

Cada cidadão deve conhecer o estado da nação. Quando a situação está mal, deve buscar soluções. E, finalmente, tendo encontrado as soluções, deve agir“, escreveu Marc Sangnier, descrevendo o método de pesquisa usado pelo Sillon em 1899.

Mas foi Cardijn que aperfeiçoou o método e fez dele a pedra de fundação do movimento da Juventude Operária Cristã – JOC, a partir do qual ele seria adotado depois por outros tantos grupos e movimentos de apostolado de leigos:

“Líderes e membros devem aprender a ver, julgar e agir. Ver o problema para julgar a situação presente, os problemas, as contradições, as demandas… Agir com vistas à conquista do seu destino temporal e eterno”, disse ele aos delegados do Primeiro Congresso Internacional da JOC, em 1935.

Cardijn, de fato, viu-se como professor e educador de jovens trabalhadores. Cinquenta anos depois da Mater et Magistra, podemos ver claramente que ele também era um grande mestre de toda a Igreja.

“Desde então, o método ver-julgar-agir foi reconhecido e adotado por toda a Igreja”, continuou Ruben. “Isso mostra como Cardijn foi um mestre para toda a Igreja – não só para os jovens trabalhadores”, disse. “Essa é outra razão pela qual esperamos que Cardijn, um dia, seja reconhecido como Doutor da Igreja”, concluiu.

(A reportagem é do sítio Cardijn Movement News. A tradução é de Moisés Sbardelotto.)

Fonte:

IHU

11 respostas para “As origens do método “VER, JULGAR e AGIR”, que foi consagrado na caminhada da Igreja latino-americana”

  1. Educação democrática é uma estratégia bastante concreta para promovermos a transformação social.

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  2. Se os professores e professoras se apropriassem desse método suas práticas seriam significativas.

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  3. Na verdade , a formula ver- julgar- agir de Cardijn resumiu claramente o ” metodo de educação democratica ” nos ” circulos de estudos”que o Sillon havia sidopioneiro na França na virada do seculo XX.

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  4. A leitura do método Ver, Julgar e Agir, nos faz refletir sobre o cenário atual dos jovens na sociedade contemporânea, jovens que têm seus direitos negado,
    jovens que pedem por socorro, jovens que não são vistos, jovens que buscam por oportunidades e, muitas vezes é negada. Desse modo, como educador e sociedade, devemos nos posicionar em prol dos jovens e de seus direitos, principalmente, dos que vivem em centros periféricos.

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  5. O método Ver, Julgar e Agiratende a educação popular na sua intenção de desencadear processos educativos participativos, a partir da realidade e do protagonismo dos sujeitos da comunidade.

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  6. O método visa de maneira indutiva refletir sobre a realidade e seus problemas, discernindo-a em vistas de uma ação concreta.

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  7. Ótimo texto! Muito elucidativo sobre o método ver, julgar e agir, que possibilita uma apreensão da realidade muito mais consciente e critica, fazendo com que os sujeitos possam atuar de forma mais efetiva a fim de modificar sua realidade a tornando mais justa.

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  8. O Método Ver, Julgar e Agir, nos ajuda a entender a realizada que vivemos e que nos leva a enxergar á luz da esperança que é possível continuar lutando com ações concretas que é possível um mundo melhor.

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